quarta-feira, 19 de junho de 2019
RSF
repudia ataques contra os jornalistas do The Intercept Brasil
As reportagens do The
Intercept Brasil sobre a operação Lava Jato desencadearam uma enxurrada de
ataques contra o jornalista norte americano Glenn Greenwald, editor chefe da
agência de notícias, assim como contra sua família e colegas de trabalho. A
Repórteres sem Fronteiras (RSF) denuncia um ambiente hostil ao jornalismo e
pede às autoridades que garantam o sigilo da fonte e investiguem a origem das
ameaças contra o The Intercept Brasil e seus representantes.
Os ataques começaram
assim que o The Intercept Brasil publicou a primeira parte de uma série de
reportagens que expõe graves irregularidades ocorridas durante a operação Lava
Jato, investigação que revelou um dos maiores escândalos de corrupção na história
do país, no último domingo 9 de junho de 2019. O primeiro alvo dos ataques foi
o co-fundador e editor chefe do The Intercept Brasil, Glenn Greenwald. Em
seguida, sua família e a redação como um todo. No dia 11 de junho, o deputado
federal David Miranda, marido de Glenn Greenwald, denunciou publicamente
algumas das mensagens sórdidas e ameaças de morte que recebeu após as
revelações do The Intercept Brasil, dentre as quais um pedido de resgate no
valor de 10 mil U$ em bitcoins em troca da segurança dos filhos do casal.
Nas redes sociais,
insultos, mensagens caluniosas e ameaças de morte espalharam-se como rastilho
de pólvora, alimentadas por informações e notícias falsas com o objetivo de
descredibilizar o trabalho da equipe do The Intercept Brasil e o jornalista
Glenn Greenwald, vencedor do prêmio Pulitzer em 2014, residente no Brasil. No
Twitter, a hashtag DeportaGreenwald pedindo a expulsão do jornalista alcançou
os trending topics no país. Uma petição online no mesmo sentido foi criada no
site Change.org, que teve quase 90 mil assinaturas antes de ser retirada do ar.
As primeiras reações
por parte de integrantes do governo, de alguns meios de comunicação e de
personalidades diretamente apontadas nas revelações, em particular o atual
ministro da justiça Sérgio Moro, se concentraram em atacar a origem do
vazamento e o caráter ilegal das interceptações de mensagens privadas de
Telegram, gravações em áudio, vídeos, fotos, documentos judiciais e outros
itens enviados ao The Intercept Brasil por uma fonte anônima.
“As autoridades
brasileiras devem respeitar o direito ao sigilo da fonte, garantido pela
Constituição Federal, assim como assegurar a proteção dos jornalistas do The
Intercept Brasil e investigar as graves ameaças recebidas por Glenn Greenwald e
sua família”, declarou Emmanuel Colombie, diretor regional da RSF para a
América Latina.
“Ataques contra a credibilidade de meios de comunicação que
revelam informações de interesse público, comprometedoras para o governo, são
infelizmente frequentes no Brasil; têm por objetivo claramente desviar a
atenção do público sobre o conteúdo das revelações. Nesse episódio inédito, são
ainda mais graves pois estão acompanhados de ameaças contra a integridade
física do jornalistas e por uma enxurrada de insultos de caráter homofóbico e
xenófobo desprezíveis”.
No Brasil, a
proliferação de estratégias de desinformação e o discurso público cada vez mais
orientado pela crítica à imprensa estão alavancando o sentimento de
desconfiança para com o jornalismo. Uma desconfiança que tem se materializado
frequentemente em discurso de ódio, campanhas de difamação, linchamentos
virtuais, processos judiciais abusivos e acaba estimulando a autocensura. Os
profissionais de imprensa no Brasil estão, de maneira geral e em particular com
a chegada ao poder do presidente Bolsonaro, confrontados a um ambiente cada vez
mais hostil ao livre exercício do jornalismo.
As reportagens
publicadas pelo The Intercept Brasil revelam uma colaboração proibida do
ex-juiz e atual ministro da justiça, Sérgio Moro, com o procurador Deltan
Dallagnol e a força-tarefa da operação Lava Jato durante a investigação.
O Brasil ocupa o 105°
lugar entre 180 países, após ter caído 3 posições no Ranking Mundial da
Liberdade de Imprensa de 2019, estabelecido pela RSF.
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Emmanuel Colombié
Repórteres sem
Fronteiras - Diretor América Latina
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